Com certeza, você já deve ter visto ou ouvido falar do famoso prato granfino escargot. Um típico prato da culinária francesa.
Ele costuma ser servido acompanhado de cerveja e torradas. Além disso, ele também requer o uso de instrumentos bem diferentes na hora de comê-lo.
Esses artefatos são um garfo pequeno, com dois dentes; e uma espécie de pinça. Eles funcionam da seguinte maneira: a pinça será usada para segurar a concha e o garfo, para tirar a carne de dentro da concha. Após retirá-la, leve-a a boca e experimente a iguaria.
O molho usado no prato, será o acompanhamento da torrada. Por isso, você vai mergulhar o pão nesse molho e desfrutá-lo.
Você deve achar que é muito nojento comer caracóis. Ou até mesmo que são gosmentos. Mas, quem prova do prato diz que ele remete muito à carne do camarão. E por essa causa torna-se muito saboroso.
Mas, você sabe como surgiu o hábito de comer essa iguaria? E por que será que é tão cara?
Como surgiu o hábito de comer caracóis?
Segundo estudos arqueológicos, existem indícios de que a humanidade come esses bichinhos há, muitos, muitos séculos. Inclusive, foram encontradas conchas de caracóis e algumas ferramentas, que, provavelmente, datam da Era Glacial. Os vestígios, aliás, foram vistos na região do Mediterrâneo, entre a Tunísia até o sul da França.
Além disso, é possível que o hábito também era bastante comum até metade do Holoceno. Ou seja, um período que existiu há 11,5 mil anos. Então, é possível ver que a cultura de comer escargot não é recente.
De acordo com especialistas, essa é uma tradição que vem antes da agricultura. Afinal, durante a Era Glacial, o clima vivia em mudança constante. Isso impedia a prática da agricultura. Por isso, os caracóis se tornaram populares.
Então, a partir do surgimento de florestas, há 15 a 6 mil anos atrás, os caracóis se multiplicaram ainda mais. Pois, as condições favoreceram a espécie.
Há quem diga também que os caracóis foram os primeiros animais a serem domesticados pelo homem. Ou seja, por serem inofensivos e de simples manejo, nossa espécie os cultivaram desde sempre para a alimentação.
Passando de caracóis da pré-história para prato chique
Ele continuou na alimentação dos seres humanos daquela região. Principalmente, em épocas de “vacas magras”. Ou seja, quando não havia tanta abundância em carnes e outros alimentos.
Os caracóis eram usados, inclusive, para alimentar o exercito romano, pessoas mais humildes e navegantes. Dessa forma, o escargot foi se tornando popular dentre a alimentação daquele povo.
Aliás, esse “status” de iguaria muito cara e refinada é bem recente. Isso porque, hoje em dia, poucos comem o tão famoso prato.
Mas por que tão caro?
Segundo os especialistas, este animal é muito sensível e frágil. Ou seja, a taxa de mortalidade do escargot é alta. Dessa forma, é preciso saber conservá-los em certas condições de temperatura e umidade.
Apesar de existirem mais de 6 mil espécies de caracóis, lesmas e caramujos, não são todos comestíveis. Dessas tantas variedades, apenas 12 espécies do gênero Helix, são próprias para consumo. E, somente estes podem ser chamados de escargot, ou seja, “caracol comestível”, em francês.
Além disso, para se criar escargot, são várias as normas. Principalmente as de vigilância sanitária. Já que a boca do bichinho fica perto dos pés e de sua parte genital. Afim de garantir o sabor e a limpeza do animal, ele precisa passar por vários procedimentos.
Por exemplo, a forma de alimentá-los precisa ser adequada. E, antes de serem abatidos, são submetidos ao jejum para que se faça a limpeza de toxinas de seu organismo. Além de limpar seu estômago também.
Levando o escargot para a mesa
Muitos não sabem, mas, no Brasil, existem apenas 6 espécies de escargot. E, entre elas, estão o Bourgogne, o maior do gênero na Europa. Além disso, ele é um bicho hermafrodita.
Por isso, existe duas formas de se criar esses bichinhos. A primeira é usando caixas de madeira cobertas. E a segunda, em criatórios a céu aberto, onde são colocados em tanques de alvenaria ou concreto. Neles ficam os escargots adultos, que farão parte da reprodução.
O acasalamento dura, em média, de 10 a 12 horas. E os ovos são postos cerca de três semanas após o ato. Com isso, apenas um animal fica “grávido”. Quando atinge um período de 16 a 30 dias, os filhotes nascem menores que uma ervilha. Por isso, precisam ser separados dos adultos.
A alimentação desses bichinhos consiste em couve, repolho, pepino ou uma ração específica. Porque são herbívoros. Somente, após 6 a 8 meses de uma vida boa o escargot atinge as 15 g necessárias para poder ser consumido.
Durante o processo de abate eles são colocados em água quente ou no congelador para morrerem. Em seguida, cada um tem sua carne retirada de dentro da concha. Ela é retirada com um garfo, e é um trabalho árduo. Por ser muito detalhista e minucioso.
Para você ter noção, são necessários 70 escargots para se ter 1Kg de carne. Ao final, acontece a lavagem, pré-cozimento. Em seguida, a embalagem e o congelamento da carne.
Um fato curioso é que, quando servida nos restaurantes, os chefs colocam a carne de volta dentro da concha. Aliás, nestes locais mais refinados, uma porção de 6 escargots sai por uma média de 50 reais.
Benefícios do escargot
O principal benefício é por ele ser fonte de proteína. Ele possui 16g por 100g de carne, não existe gordura e nem caloria nessa iguaria. Mas, no entanto, ele é rico em sais minerais e vitaminas.
Existem várias maneiras de cozinhar o escargot. Apenas vai variar de cultura para cultura. Em Portugal, por exemplo, o prato tradicional é cozido junto a um caldo e sem ser retirado da concha. Além de serem servidos com bacon ou linguiça.
Já na França, eles são cozidos fora da concha com vários temperos. Apenas depois eles colocam dentro novamente da concha, para apresentação do prato. Junto, também vai uma manteiga aromatizada.
5 curiosidades sobre o escargot que você não sabia
1 – É uma comida antiga
Conforme falado anteriormente, foi estudado o surgimento do escargot. E há registros que ele já havia sendo consumido na Espanha. Ou seja, desde a pré-história o animal faz sucesso na alimentação do ser humano. Foram encontrados mais de 1.500 conchas adultas, o que é bastante interessante. Pois mostra que a seleção já era feita.
2- Acredite se quiser, mas era consumida cozida
Isso mesmo, desde aquela época da pré-história o escargot já era consumido cozido. Esse fato é comprovado, pois os arqueólogos encontraram fogo e carvão próximo das conchas. Além de alecrim.
3- Os romanos foram os primeiros a produzir escargot em grande quantidade
Para isso, eles parqueavam os bichos em espaços fechados com cinzas e pó de madeira. Com isso, eles não podiam escalar até que chegassem a fase adulta. Naquele tempo, eles costumavam comê-lo grelhados ou fritos, após ficarem de molho no leite. Ao final, acompanhado também por uma taça de vinho.
Cumpriam o papel de sobremesa e acabou conquistando todas as províncias pelo império. No entanto, apenas a França deu seguimento ao costume.
4- Foram considerados impuros pela igreja
Bem no início do catolicismo, na França, o escargot foi considerado impuro. Com isso, foi acabando a fama de comer o caracol. Segundo a igreja, não poderiam consumi-lo porque ele rasteja. Mas com a fome iminente que assombrava a Europa, os camponeses e pobres decidiram continuar comendo.
A partir do século XVI, a igreja voltou atras e permitiu o consumo do escargot. Eles alegaram que a carne do caracol é magra, assim como a da rã. Dessa forma, liberaram o consumo durante a quaresma.
5- Foi servido a corte como segunda opção e foi um sucesso
Em 1814, o escargot levou um grande empurrão que precisava para a fama. O conde de Talleyrand, que era ministro de relações exteriores do rei XVIII, se reuniu em um jantar. Com Czar Alexandre I e o chef da noite era nada menos que Antonin Carême. Ele era conhecido por ter sido o primeiro a por em um livros as receitas da culinária francesa.
Porém na hora do jantar houve um problema na cozinha, especificamente no abastecimento. Como solução o cozinheiro, serviu o escargot. Pois achava a carne que havia disponível muito rustica para os príncipes. No prato, para disfarçar, acrescentou bastante alho, salsa verdinha e manteiga. Desde então, o escargot foi um puro sucesso.
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Fonte: Au Bon Vivant, 360 meridianos, Superinteressante – Abril.com
Fonte de imagem de destaque: Guia do Estrangeiro
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