Existe um grupo de mulheres nômades idosas que faziam parte de uma comunidade de pastores de rena. Na velhice, atualmente elas moram em um remoto vilarejo, chamado Yar-Sale, no norte da Sibéria (Rússia).
Geralmente, os homens dos grupos são incentivados a continuar migrando e desempenhando suas funções, enquanto as mulheres são colocadas no ostracismo e obrigada a enfrentarem a velhice sozinhas.
Em busca dessas mulheres, o fotógrafo Oded Wagenstein encarou uma longa jornada para alcançar as mulheres esquecidas no deserto gelado da Sibéria.
Para chegar até o local, ele precisou pegar um voo para a Rússia e, à partir de Moscou, mais 60 horas de trem. A jornada (de ida) só acabou depois de sete horas viajando sobre um rio congelado.
“Fiquei surpreso com a recepção calorosa que recebi na casa delas. Por dias – com muito chá – nós sentamos juntos enquanto elas compartilhavam comigo histórias, canções de ninar e saudades: lembranças distantes de paisagens brancas e rebanhos de renas, dos pais e parceiros, junto com grande frustração pela sensação de estar ‘sem propósito’ na vida”, conta Wagenstein à BBC.
Conheça um pouco da história dessas mulheres nômades
1 – Angelina Serotetto (76)
Angelina é descendente de uma longa família de mulheres xamãs. Sua mãe a ensinou a ler o futuro usando objetos sagrados da natureza.
Ela conta: “Sim! Eu sinto falta daqueles dias do passado, mas eu tento me manter otimista. Eu vejo tudo com olhar mais amoroso. Eu acho que você aprende quando você envelhece”.
2 – Autipana Audi (77)
Com uma história bastante sofrida, Autipana passou por diversas grandes e tristes perdas ao longo da vida. Perdeu o marido, o filho e a filha para doenças.
E, há alguns anos, todo seu rebanho morreu de fome em um período de baixíssimas temperaturas. Ela tem muita dificuldade em andar, por isso passa a maior parte do tempo na cama. Consciente de que nunca mais poderá mudar de lugar, como nos velhos tempos.
Audi conta: “Eu sinto falta dos verões, quando a gente costumava pescar. Tenho saudades da minha família e do meu rebanho. Mas o que eu sinto falta é de andar. De andar na neve”.
3 – Zinaida Evay (72)
A senhora de 72 anos lembra com afeição dos tempos de casa, ela e o marido tinham “uma relação maravilhosa, cheia de amor e diversão até o último dia dele.”
Hoje, ela mora em um pequeno apartamento e seus únicos companheiros são seus gatos.
“Eles estão velhos também”, diz, sobre os animais. “A única coisa que sobrou são as canções de ninar que canto para mim mesma”.
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4 – Pudani Audi (70)
Pudani nasceu na Tundra, assim como seus ancestrais que vagaram pelas terras congelantes do norte da Sibéria por milhares de anos.
Desde seu nascimento se mudava, indo de um canto a outro. Quando chegou à idade adulta, se tornou uma das líderes dos nômades pastores. Conduzia rebanhos em uma das regiões mais extremas da Terra.
Ainda hoje Pudani tem a esperança de voltar à ativa, mas infelizmente não tem mais o apoio de seu grupo. Isso faz com que seja, praticamente, impossível que ela consiga.
“Sinto falta da liberdade e da vida ao ar livre. Mas acho que minha participação acabou. Não precisam mais de mim lá.”
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5 – Liliya Yamkina (74)
Ainda criança, era a única na tundra que sabia ler. Liliya se lembra do quanto se sentia importante ao ler para todos do grupo cartas e documentos formais.
Seu grande sonho era ir para a faculdade e se tornar professora mas, justamente por ser a única que sabia ler, seu pai a proibiu de deixar o grupo nômade.
Agora, sozinha, ela escreve músicas românticas sobre a vegetação local. E sonha em publicar seus textos em uma revista.
“Eu não entendia completamente a importância da tradição e da família quando era jovem. Briguei muito com meus pais. Eu queria fugir das minhas raízes. Lembro do quanto eu gostava de quando eles me contavam contos do nosso povo ao redor da fogueira… sinto muito a falta deles.”
Fonte: BBC
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